A foto em destaque no post é do Neymar tomando uma joelhada nas costas na Copa de 2014. A joelhada rendeu a ele uma fratura na coluna que o tirou do restante da Copa. Foi por isso que ele não estava jogando no 7×1, caso alguém não se lembre. Ele tinha 22 anos.
Desde o início da Copa de 2018 intensificaram-se novamente as manifestações negativas sobre o Neymar, as críticas, a já tradicional “zuêra” que o brasileiro faz tão bem. Tudo isso até tem um lado muito saudável, cômico, mas também há limites. Ainda antes da Seleção Brasileira perder para a Bélgica por 2×1, já haviam surgido pela internet vários textos que questionavam a índole do jogador usando argumentos moralistas e com ar de superioridade, como se o jogador não tivesse o direito de se comportar como se comporta e como se devessem ser impostos a ele supostos “comportamentos corretos”.
Logo após a derrota, começaram a surgir manifestações ainda piores, tentando vincular seu comportamento a crimes de corrupção, tentando responsabilizá-lo por uma suposta “irresponsabilidade da juventude do Brasil”, condenando-o por ser um mau exemplo para o país.
Irresponsabilidade é colocar nas costas de alguém tão jovem o peso de ser “modelo” para o país. Neymar aos 15 anos já aparecia na TV como “a grande promessa para a seleção”. O Pelé já o elogiava. Aos 17 tornou-se titular no Santos e virou definitivamente “o garoto Neymar” que dava gosto de ver jogar, apesar de franzino e de logo pegar a fama de que caía muito.
As críticas que surgem para o Neymar são via de regra críticas cegas de raiva, seja raiva pelo time não estar fazendo gols, seja por ele não estar jogando bonito, seja por um empate, ou por uma eliminação. Projetamos nossas frustrações e esperanças no futebol e nos esquecemos que os jogadores também são pessoas, que também sofrem e sangram, e que estão ali praticando um esporte de alto rendimento, algo que exige enorme sacrifício físico e traz um risco constante à saúde. Também esquecemos que, acima de tudo, não conhecemos o Neymar como pessoa. Não temos como saber quem ele é com base no comportamento enquanto joga bola e em entrevistas e propagandas. Muitas vezes não conhecemos direito nem nossos vizinhos, nossos primos, às vezes até nossos cônjuges. Como poderíamos julgar a índole de um jogador de futebol na tentativa de linchá-lo publicamente e culpá-lo por males dos quais ele não tem responsabilidade?
Jogadores de futebol também são muito criticados por “ganharem demais”, num reflexo claríssimo de inveja das pessoas que fazem essas críticas. Os jogadores em geral ganham de acordo com a riqueza que geram para todos em sua volta. É o tal mercado, muito defendido por muitos de seus críticos mais ferrenhos.
Mesmo os fãs de futebol muitas vezes ignoram a entrega, a dedicação, o sofrimento e a abnegação necessários para uma pessoa ser bem-sucedida como jogadora de futebol profissional. Basta olhar para a joelhada que quebrou a coluna do Neymar, basta pesquisar brevemente nas imagens do Google sobre os pés de jogadores de futebol, que acabam tão ou mais deformados do que os pés de bailarinas (que muita gente também não sabe que se deformam). Basta se informar um pouco sobre suas exigências de treinamento, musculação e dieta, sobre o cansaço de tantas viagens que os obrigam a ficar muito tempo longe de suas famílias.
Então, por favor, vamos deixar o Neymar e os jogadores e jogadoras de futebol em paz. Ou melhor, vamos apoiá-los. Eles sentiram a derrota mais que a gente. Eles estavam lá. E todas as vezes que caíram no gramado, doeu neles fisicamente, doeu muito, independentemente de acharmos, do conforto de nossas salas e da arquibancada, que estão exagerando.
Nós temos naturalmente uma sede de sangue quando nos sentimos injustiçados. Queremos cabeças. A cabeça do momento é a do Neymar. Não cometamos essa injustiça, estamos em 2018 e, em princípio, a era dos gladiadores acabou há muito tempo.
Por Luiz Augusto Ferreira Araújo
Referências e leituras recomendadas:
http://www.aeromental.com/2014/07/06/la-fifa-esta-analizando-el-golpe-de-zuniga-contra-neymar/
Coletivo Mula 