Agrotóxicos, política e quimiofobia

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A polêmica dos agrotóxicos pode ser analisada de vários pontos de vista, mas talvez as duas perspectivas mais importantes sejam a científica e a política. As duas se sobrepõem, mas é importante tentar entender bem o que é ciência e conhecimento confiável e o que é vontade política, seja pela representação de pequenos produtores, de pessoas que querem consumir determinados tipos de produtos com determinado tipo de produção, seja do agronegócio.

Costumamos misturar muito essas perspectivas. Algo que ocorre com frequência é que, aparentemente, conhecimento científico acaba sendo rotulado como oposição política e posturas políticas acabam resultando em opiniões que vão contra as evidências científicas.

No caso específico de posturas políticas que contradizem evidências científicas sobre agrotóxicos, alguns cientistas têm chamado isso de quimiofobia.

“Calculamos que 99,99% (por peso) dos pesticidas da dieta dos cidadãos dos EUA são químicos que as plantas produzem para se defenderem.”

Referência: http://www.pnas.org/content/87/19/7777

A população tem muita preocupação com pesticidas sintéticos e não atenta para os compostos químicos produzidos pelas próprias plantas. Como se sabe, plantas são seres sésseis (não podem fugir dos seus predadores) e produzem vários compostos tóxicos para se defenderem de animais herbívoros, mas as pessoas tendem a achar que isso não é um problema porque “é natural” (isso é uma forma de falácia naturalista, que significa considerar que algo não pode fazer mal pelo simples fato de “ser natural”, e isso não é verdadeiro).

Apesar de existirem inúmeros e contínuos esforços para estudar as plantas e especialistas debruçados sobre o assunto em instituições do mundo inteiro, a comunidade científica sequer chegou a averiguar a fundo todos os compostos químicos que estão presentes nas plantas devido à sua infindável diversidade, e dos poucos compostos que já são conhecidos, pouquíssimos foram submetidos a testes toxicológicos.

Em contraste, os pesticidas artificiais são conhecidos, submetidos a uma bateria de testes antes de serem aprovados, e continuamente controlados quanto à sua venda, aos seus níveis de aplicação e à sua presença no produto final.

Essa falta de perspectiva da população em geral com relação ao universo botânico e os processos químicos envolvidos causa uma distorção enorme na percepção de risco pelos cidadãos.

Tudo isso não quer dizer que seja correto, por exemplo, aprovar o “PL do veneno” como está, mas diz muito sobre a complexidade dos debates e a falta de conhecimento tanto da população quanto das pessoas que influenciam diretamente a política.

 

Algumas leituras recomendadas:

https://www.larissabombardi.blog.br/atlas2017

https://ceticosblog.wordpress.com/2018/07/03/o-medo-irracional-dos-pesticidas/

 

por Vinicius Waldow e Luiz Augusto Ferreira Araújo

 

Photo credit: Sky Noir on VisualHunt / CC BY-NC

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