Menina veste rosa, menino veste azul!?

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Opiniões

Ponto e Contraponto

 

Iuri: Em 1983, estourou no Brasil a canção Masculino e Feminino, de Pepeu Gomes, desafiando tabus limitadores do ser humano, na cola de uma abertura mental e dos costumes no entorno daqueles anos 80. 35 anos depois, temos essa declaração binarista da ministra do governo empossado, cômica, até (não fosse assustadora), de puro retrocesso e que pra mim é simbólico de toda uma ideologia no poder, afetando a cultura, a economia, a sociedade com um neofundamentalismo imbecilizante.

 

Luiz Augusto: Sinceramente, acho que estamos num estágio tão retrógrado de polarização política que qualquer questão é transformada em algo totalmente fora de proporção. Explico meu raciocínio:

As pessoas que se consideram “de lados opostos” não demonstram sequer um mínimo de tolerância com posturas divergentes. Nem quando as manifestações são parte de alguma brincadeira ou piada interna. Claro, as brincadeiras e piadas internas têm seu fundo de verdade, mas dificilmente representam com precisão o que está sendo de fato proposto. Não creio que a ministra esteja propondo nenhum tipo de verdade absoluta ou imposição. Ela está expressando seu descontento por sentir-se também oprimida (e encontra ressonância com parte expressiva da população) por sentir que sofrerá reprovação pública se desejar que escolher as cores e roupas de seus filhos. É um sentimento legítimo e que deve ser ouvido e dialogado.

Entretanto, num ambiente de polarização hostil em que ambas as partes se arrogam superioridade moral, nenhum dos lados parece ter a maturidade necessária para criar um ambiente receptivo a diálogos construtivos. Vemos apenas revanchismo através de tentativas de ridicularização, de discursos raivosos, pouca paciência, pouca empatia, pouca compaixão e ouvidos bloqueados pela gritaria egocêntrica. E estamos todos juntos jogando cada dia mais combustível nesta fogueira.

Não tenho dúvida de que se insistirmos nisso, virão tempos de maior violência, de ainda mais agressões e mortes, e que todos perderemos juntos. Depois, ficará a cargo de autointitulados “vencedores” (meros sobreviventes de uma tragédia absurdamente traumática) registrar a história do conflito e lamentar mais um fracasso entre os incontáveis – dos quais pouco aprendemos – ao longo da história de nossas civilizações.

 

Iuri: Entendo, Luiz. Mas a pessoa em questão é ministra de Estado, alta autoridade, num cargo importantíssimo, bem remunerado, pressupondo-se várias capacitações para lá estar, incluindo noções sobre Estado laico e o que implica governar para todos os segmentos da população brasileira, mesmo as minorias. Não busco confronto, mas expressar meus temores como que está se instalando. Papo extenso, sim, espinhoso, mas aqui colocado como se estivéssemos todxs entre amigxs (hehe), divergindo de boas!

 

Luiz Augusto: Não achei sua ponderação necessariamente divergente, mas complementar. Sim, pessoas imbuídas de poder público devem ser sujeitas a um maior escrutínio e devem – idealmente – ter cuidados especiais com o que expressam.

Mas como deves ter percebido, minha ponderação vai bem além desta ocorrência pontual (apesar de considerar que mesmo neste caso deveria haver mais tolerância e debate pacífico em lugar de enfrentamento agressivo e ridicularização).

O curioso é que esse tipo de reação em massa causa invariavelmente a projeção da figura antagonizada.

 

Por Iuri J. Azeredo e Luiz Augusto Ferreira Araújo

 

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